segunda-feira, outubro 15, 2007

O conto da inocência.

Quão intimamente uma pessoa pode conhecer a outra? É o simples fato de perder a vergonha de tirar a roupa na frente desta ou conseguir olhar nos olhos, sem precisar piscar, sem desviar a visão para outro lugar? Beijar a boca e sentir o gosto do outro. De olhos fechados reconhecer o cheiro dele, sem ele precisar dizer nada. Chegar tão perto dos lábios apenas para ver mais de perto e ouvir mais atentamente as historias reais ou fictícias que ele conta durante uma noite, um ano, uma vida inteira. Aquela vez que ele caiu quando tinha sete anos e deixou uma cicatriz suave em seu queixo, sei os detalhes de sua vida, sei quem ele é. Poemas e poesias saem daquela boca que a pouco havia beijado o meu corpo, suas palavras são fortes, invadem minha mente me deixando tonta. Ele sussurra no meu ouvido o que eu nunca poderia dizer a ninguém e domina minha alma com seu toque. Deseja estar comigo, me deseja. Acorda mal-humorado, mas logo passa. Existe uma linha tênue entre onde eu termino e ele começa. Eu me perco nele e ele em mim. Em seus lençóis quero fazer moradia. Juras de amor, felicidade eterna, eu te amo. Quero que seus sonhos se realizem, quero sempre, quero tudo, ao seu lado eternamente permanecerei. Como uma criança que confia plenamente em seu pai eu confio no amor que sinto. Sempre, tudo e eterno. Palavras que nunca deveriam estar juntas em uma mesma frase, pois na realidade sempre e tudo não existem, eterno muito menos, são exageros. Exageros o amor está cheio deles. Uma pessoa apaixonada dificilmente tem seus pés no chão, não é racional. A vida é efêmera, as palavras são promessas tolas, que podem muito bem ser perdidas ao vento ou até mesmo com o tempo. Existe o comprometimento, claro, entre aqueles que se amam, mas não existe a ponderação, ao invés o oposto, o exagero sempre anda de mãos dadas com a paixão. Sentimentos a flor da pele e quando acaba a queda é longa e dolorosa. Aqueles que eram um só dividem-se e tornam-se dois estranhos que se conhecem tão bem. Estranhos que se conhecem bem. É o que nos tornamos eu e você. No travesseiro mais fofo da tua cama nunca mais descansei minha cabeça, nunca mais deixei meu cheiro. A minha inocência perdi junto com teu amor e acho difícil achar embaixo de onde deixei. Escondi com meus outros brinquedos numa parte muito escura e sombria do meu coração. Escondi mas nunca esqueci... Pois ainda quero brincar mais vezes, com ou sem você, no parque de diversões de uma só pessoa: o meu.

Nenhum comentário: